Xixi na cama compromete auto-estima das crianças

Noventa por cento dos casos não têm origem emocional

Ao contrário do que muita gente pensa, nem sempre questões emocionais estão diretamente relacionadas ao ato de fazer xixi na cama. De acordo com estimativas da Sociedade Brasileira de Urologia, 15 % das crianças acima de cinco anos sofrem de enurese noturna. Apenas 10% dos casos podem ter razões emocionais; 90% dos episódios têm origem orgânica ou origem hereditária. Dois terços dos pais que já sofreram com o problema podem ter filhos com os sintomas da enurese noturna, termo técnico para o hábito involuntário de urinar na cama após a idade em que a criança já deveria controlar o xixi. O problema varia desde crianças que precisam usar fraldas dia e noite, àquelas que não conseguem controlar a urina e têm escapa involuntário na roupa durante o dia até aquelas que urinam na cama constantemente.

“Todas estas situações comprometem muito a auto-estima das crianças, contribuindo até para que elas assumam comportamentos anti-sociais, evitando dormir na casa de parentes e amiguinhos por vergonha”, explica o urologista pediátrico Ubirajara Barroso. Coordenador do Centro de Estudos Miccionais da Infância (Cedimi), Barroso destaca que a incontinência urinária é um problema de saúde sério, que precisa ser tratado com brevidade. “A depender da causa, além de alterações psicológicas graves, a doença está comumente associada a infecções urinárias, refluxo vésico-uretral e até lesão renal”, alerta.

Pioneiro e referência nacional no tratamento integrado de doenças miccionais na infância, o Cedimi – com inúmeros trabalhos publicados em revistas médicas no Brasil e no exterior – presta assistência gratuita à população. A média de atendimentos mensal é de 80 pacientes. Uma equipe multidisciplinar, formada por urologista pediátrico, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos, conta com aparelhos completos de urodinâmica para acolher crianças e os pais, que precisam aprender a lidar com a situação. “Infelizmente, por falta de informação, muitos pais brigam e punem os filhos pelas perdas urinárias que eles não têm como controlar sem um tratamento especializado. Há pais que punem até fisicamente”, pontua o especialista.

O diagnóstico e o tratamento para o combate do xixi na cama devem ser iniciados com a maior brevidade possível. A intervenção pode ser medicamentosa ou através da terapia com eletrodos. Os estímulos indolores ajudam o cérebro da criança a reconhecer que a bexiga está cheia. Geralmente, a criança abandona o uso da fralda entre 2 e 3 anos. “É recomendável tirar a fralda durante o dia. Quando a criança acordar seca com alguma frequência, os pais devem tentar tirar a fralda também à noite”, ensina Barroso, lembrando a importância de respeitar a individualidade dos pequenos, já que cada criança tem seu ritmo de desenvolvimento.

Após os cinco anos, os pais já devem ficar alerta se o xixi na cama ainda for freqüente. Quanto antes o problema for tratado, menores são as chances da criança sofrer com baixa autoestima, que pode interferir no seu desenvolvimento emocional, tornando-a tímida, retraída e sem confiança nas suas próprias capacidades.

Algumas dicas:

  • Esvazie a bexiga da criança antes do sono;
  • Diminua a ingestão de líquidos à noite;
  • A suposta sede da criança antes de dormir pode ser evitada se ela tomar mais líquido durante o dia, de forma distribuída.
  • Não compense a má alimentação da criança durante o dia com mamadeira ou copo de leite à noite, que aumenta o volume de líquido filtrado pelo rim.

Sobre Ubirajara Barroso:

Professor Chefe de Disciplina de Urologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Professor Adjunto da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, é membro titular da Academia de Medicina da Bahia e coordenador do Centro de Distúrbios Miccionais da Infância (Cedimi). Conferencista internacional, tem artigos sobre inovações no tratamento de patologias da área de urologia pediátrica publicados nas principais revistas científicas do mundo.

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