Injeção endoscópica para tratamento do refluxo vesicoureteral

O refluxo vesicoureteral causa o retorno da urina para os rins. A injeção endoscópica é um tratamento minimamente invasivo realizado por um urologista pediátrico com uma taxa de sucesso de até 90%

O refluxo vesicoureteral é uma condição em que há um fluxo anormal da urina da bexiga para os rins. Normalmente, a urina flui dos rins para a bexiga por meio dos ureteres de forma unidirecional, sem retroceder. No entanto, no caso do refluxo vesicoureteral ocorre um mau funcionamento nas válvulas que normalmente impedem esse retorno, permitindo que a urina reflua.

A injeção endoscópica para o refluxo vesicoureteral é uma solução avançada e menos invasiva para corrigir essa condição que afeta o fluxo normal de urina. Essa técnica aplicada por um urologista pediátrico, oferece uma abordagem eficaz, especialmente em casos de refluxo de grau leve a moderado.

Neste texto vamos abordar o que é o refluxo vesicoureteral e o tratamento dessa anomalia por meio da injeção endoscópica. Continue lendo para entender.

O que é refluxo vesicoureteral

O refluxo vesicoureteral é uma condição mais comum em crianças e geralmente está associada a anomalias congênitas nas válvulas ou no posicionamento dos ureteres. Essa anomalia pode variar em gravidade, sendo classificada em diferentes graus.

De acordo com o Dr. Ubirajara Barroso Jr., chefe da divisão de cirurgia urológica reconstrutora e urologia pediátrica do Hospital da Universidade Federal da Bahia (UFBA), refluxos leves (graus 1 e 2) frequentemente resolvem-se espontaneamente, enquanto casos mais severos podem demandar intervenção. Nos casos mais leves, o refluxo pode resolver-se espontaneamente à medida que a criança cresce, enquanto casos mais graves podem aumentar o risco de infecções urinárias e danos renais.

“A depender do grau do refluxo, há uma boa tendência à resolução espontânea, por exemplo, graus 1 e 2 contam com mais de 70% de resolução sem necessidade de tratamento, já os graus 3, 4 e 5 depende se ele é unilateral ou bilateral, chegando a ser menos de 10% de resolução quando os refluxos são grau 5 bilateralmente”, explica o Dr. Barroso.

Ainda segundo o Dr. Ubirajara Barroso, que também é chefe da Unidade do Sistema Urinário do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (UFBA), o refluxo pode ser primário ou secundário:

Refluxo vesicoureteral primário:

“É quando a criança nasce com ele por uma incompetência congênita da válvula da entrada do ureter na bexiga. O ureter é o canal que liga os rins à bexiga”, descreve o uropediatra.

Refluxo vesicoureteral secundário:

“O refluxo secundário é quando existe um aumento da pressão da bexiga, descompensando a válvula do ureter e fazendo com que a urina retorne aos rins. É o caso da bexiga neurogênica, das disfunções miccionais e das obstruções da bexiga, como na válvula de uretra posterior”, exemplifica.

Diagnóstico do refluxo vesicoureteral

O refluxo vesicoureteral pode ser diagnosticado por meio de exames como a cistouretrografia miccional e eco contraste. 

“O refluxo é assintomático e o diagnóstico é geralmente por sintomas de infecção urinária. Os lactentes normalmente se apresentam com febre sem foco aparente, ou seja, a febre é o único sintoma, e nas crianças maiores, principalmente após o desfralde, elas apresentam sintomas de cistite, como ardência para urinar, a disúria, a urgência miccional e incontinência urinária”, descreve o especialista em uropediatria.

Dr. Ubirajara Barroso destaca que o diagnóstico do refluxo vesicoureteral é por meio de um exame chamado de cistouretrografia miccional. “Esse é um exame pelo qual é passada uma sonda na uretra, injetado o contraste e é observado se o contraste retorna aos rins”, aponta.

Outra possibilidade de diagnóstico é através do eco contraste, de acordo com o Dr. Barroso, nesse exame substâncias ecogênicas são injetadas na bexiga e o exame então é feito por ultrassonografia.

A cintilografia também é um exame que pode ser realizado para o diagnóstico do refluxo vesicoureteral. “Ela possui uma boa sensibilidade para diagnóstico, mas a desvantagem é que o refluxo não pode ser graduado por esse método”, afirma.

Injeção endoscópica para tratamento do refluxo vesicoureteral

Enquanto o refluxo é observado clinicamente, normalmente as crianças são tratadas com antibiótico preventivo em pequenas doses diárias para evitar episódios de infecção. Quando há infecção urinária apesar do uso de antibióticos, ou na persistência do refluxo, pode ser indicada uma intervenção.

O médico orienta que os casos que apresentam infecção urinária de repetição necessitam de tratamento intervencionista ou um tratamento menos invasivo, que é por meio de injeção endoscópica. “Nós injetamos dentro ou abaixo do ureter substâncias que são pouco absorvidas, e com isso é refeita a válvula”, relata.

A injeção endoscópica é a indicação principal nos refluxos que variam entre grau 1 a 4. Eventualmente, refluxos grau 5 com diâmetro ureteral não tão grande também podem ser tratados por injeção endoscópica.

“Esse tipo de tratamento tem a grande vantagem atualmente por ter uma taxa de sucesso que chega até 90% dos casos e ser realizado sem cortes em regime de hospital dia”, garante o especialista em uropediatria.

Essa abordagem é realizada por um uropediatra em apenas uma sessão, em regime de hospital dia, e oferece uma taxa significativa de sucesso. A injeção endoscópica apresenta mínimas restrições pós-procedimento, permitindo a retomada das atividades cotidianas rapidamente.

“Em caso de falha, é possível repeti-la. A partir daí se houver a persistência do refluxo, indica-se a cirurgia aberta, entretanto, com a evolução técnica e dos materiais injetados, a chance de falha é cada vez menor, sendo hoje a cirurgia aberta realizada de forma menos frequente”, destaca o cirurgião pediátrico.

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VEJA TAMBÉM: Leia matéria com o Dr. Ubirajara sobre refluxo vesicoureteral no Correio Braziliense