A hipospádia é uma anomalia que afeta o sistema urinário e genital masculino. A experiência do cirurgião pediátrico é fundamental na redução das complicações cirúrgicas.
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A hipospádia é uma condição congênita que afeta o sistema urinário e genital masculino. Nela, a abertura da uretra, o canal que transporta a urina da bexiga para fora do corpo, não está localizada na ponta do pênis, como é comum, mas em outra posição mais abaixo ao longo do eixo do órgão.
Normalmente, a uretra se abre na ponta do pênis, mas em casos de hipospádia, ela pode estar localizada na parte inferior do pênis, na região do escroto ou em algum lugar intermediário.
A gravidade da hipospádia pode variar, desde formas leves, na qual a abertura está apenas ligeiramente deslocada, até formas mais graves, com a abertura podendo estar próxima à base do pênis.
Neste artigo, abordaremos tudo o que você precisa saber desde a importância da idade para a cirurgia precoce até as técnicas avançadas e cuidados pós-operatórios. Continue lendo e confira.
O que é hipospádia?
A hipospádia é uma malformação congênita frequente em meninos recém-nascidos, caracterizada pela abertura anômala da uretra na parte inferior do pênis. A abertura da uretra, por onde sai o xixi, fica por baixo do pênis. O urologista pediátrico precisa corrigir o canal da uretra para que o fluxo urinário seja direcionado para saída na glande.
Chefe de cirurgia reconstrutiva de uretra de crianças e adultos do Hospital da Universidade Federal da Bahia, Dr. Ubirajara Barroso Jr. aponta que a incidência da hipospádia varia entre 3 e 8 casos por 1000 nascidos vivos. Ele ainda destaca que quando um filho nasce com hipospádia, há chance de outro membro nascer com a mesma condição em 20% dos casos.
A hipospádia é classificada em diferentes tipos com base na localização da abertura uretral. Veja:
Glandar:
Nessa situação, o meato uretral nasce na base da glande. “É a forma mais leve de hiopospádia”, esclarece o urologista pediátrico.
Subcoronal:
Neste tipo, o meato uretral se abre logo abaixo da glande (cabeça do pênis). “É considerado um caso leve de hipospádia”, define o médico urologista.
Médio-Peniano:
No caso de hipospádia médio-peniano, o meato uretral se abre no corpo do pênis, entre a glande e a base. “Esse é um tipo moderado de hipospádia”, aponta o especialista.
Proximal ou Peniano Inferior:
Na hipospádia proximal, o meato está localizado na parte inferior do pênis, mais próximo da base. “Esse é considerado um tipo mais grave de hipospádia”, destaca o especialista em uropediatria.
Escrotal:
A hipospádia escrotal envolve o meato uretral se abrindo no escroto, a bolsa que contém os testículos. “Este é um tipo mais severo e menos comum da hipospádia”, ressalta.
Perineal:
O tipo perineal é o mais grave, com o meato uretral se abrindo na região entre o escroto e o ânus (períneo). “Na hipospadia escrotal e perineal é comum haver transposição penoescrotal. Uma alteração onde a raiz do escroto nasce acima do pênis, podendo assemelhar-se aos grandes lábios vaginais”, explica.
A classificação dos tipos de hipospádia é fundamental para determinar o plano de tratamento mais adequado. “Cada caso é único, e a escolha da abordagem cirúrgica depende da gravidade da condição e da localização do meato uretral”, detalha Dr. Barroso.
O tratamento da hipospádia geralmente envolve cirurgia visando corrigir a anatomia para permitir uma função urinária e sexual adequada, bem como melhorar a estética genital.
A intervenção cirúrgica é frequentemente recomendada em idades mais jovens para evitar complicações futuras e permitir o desenvolvimento normal do órgão genital.
Quando fazer a cirurgia para correção da hipospádia
De acordo com o Dr. Ubirajara Barroso, a decisão de realizar a cirurgia de hipospádia em idades mais jovens, entre 6 meses a 1 ano de idade, é importante. “Esperar até a idade adulta pode aumentar as complicações cirúrgicas. Além do mais, as complicações cirúrgicas têm também a ver com a gravidade da hipospádia e a experiência do cirurgião”, explica o urologista.
O médico destaca que é mais aconselhável que a cirurgia ocorra até 1 ano e meio de idade, visando garantir um menor impacto psicológico nas crianças e melhor resultado funcional com menor taxa de complicação.
“Os hipospadiologistas são cirurgiões especializados em correções de hipospádia, eles possuem uma abordagem específica que diminui riscos e aprimora os resultados da cirurgia. A experiência do cirurgião desempenha um papel vital na redução das complicações cirúrgicas”, complementa.
Cada paciente é tratado de acordo com a gravidade da sua condição, no entanto, toda correção desse defeito anatômico é realizada mediante cirurgia. “As hipospádias mais comuns, em mais de 90% dos casos, podem ser reparadas em uma única intervenção. Outros tipos podem exigir cirurgias em dois tempos”, explica o urologista pediátrico.
Dr. Barroso acrescenta que nos casos em que são necessárias mais de uma intervenção cirúrgica, o intervalo deve ser de 6 meses entre um procedimento e outro.
Técnicas avançadas para cirurgia de hipospádia
O resultado cirúrgico da hipospádia está intimamente relacionado à experiência do cirurgião. Atualmente a equipe do Dr. Ubirajara Barroso Jr. desenvolveu uma técnica para melhorar ainda mais os resultados cirúrgicos.
Em mãos de médicos pouco experientes a cirurgia de hipospádia pode requerer uma correção, ou ainda, em situações de hipospádias mais graves, o uso de enxertos pode ser necessário.
A técnica de “U” invertido é uma abordagem avançada utilizada em casos desafiadores. Essa técnica reduz a retração do enxerto, que possui grande importância para a reconstrução da uretra.
“Essa técnica consiste em retirar tecido da mucosa da face interna boca em forma de “U” dobrando a quantidade de enxerto para a cirurgia, o que contribui para melhores resultados e melhor eficácia no tratamento da hipospádia”, descreve.
Uso da câmara hiperbárica após a cirurgia de hipospádia
De acordo com o Dr. Ubirajara, alguns estudos revelam os benefícios da oxigenioterapia hiperbárica na recuperação pós-cirúrgica da hipospádia. A hiperbárica traz benefícios como:
• Aumento da oxigenação dos tecidos;
• Redução das complicações;
• Melhora da aderência do enxerto;
• Redução da contração do enxerto;
• Exploração de protocolos de tratamento para diferentes casos, incluindo pré e pós-cirurgia
“Ela pode ser utilizada após a cirurgia e em alguns casos antes e após o procedimento cirúrgico. Para pacientes que ainda não foram operados, podem ser oferecidas 10 sessões nos pós-operatório, para pacientes que irão passar por uma segunda intervenção são ofertadas 10 sessões antes da cirurgia e 20 sessões depois. Em pacientes multioperados as sessões de hiperbáricas são realizadas 1 mês antes e 1 mês depois da cirurgia”, diz o urologista pediátrico Dr. Ubirajara Barroso Jr.
Complicações e pós-operatório da cirurgia de hipospádia
Além da abertura anômala da uretra na parte inferior do pênis, a hipospádia pode estar associada a curvatura peniana que resulta em um tecido fibroso que puxa o pênis para baixo durante a ereção. Essa correção também é realizada durante a cirurgia da hipospádia.
Em alguns casos possíveis complicações podem ocorrer, como estenose de uretra (obstrução do canal por onde passa a urina), vazamento de urina (fístula), deiscência da uretra (perda do que foi feito), persistência da curvatura peniana e divertículo de uretra.
Os cuidados pós-operatórios são bastantes importantes para a eficácia da intervenção cirúrgica incluindo a hidratação adequada de enxertos, ela é essencial para minimizar os riscos e otimizar a recuperação.
“Deixamos no pós-operatório, a não ser nas hipospadias glandares, uma sonda pela uretra por 5 a 14 dias, a depender do tipo de cirurgia, e a alta no mesmo dia ou dia seguinte”, aponta Dr. Ubirajara Barroso Jr.
Na busca da correção da curvatura peniana o especialista destaca a necessidade do cuidado ao explorar ao máximo o tamanho do pênis. “Geralmente, apresenta-se no extremo inferior em termos de tamanho, buscando um aumento no comprimento do falo para atingir a média. É importante considerar cuidadosamente as dimensões genitais.”
Essa costuma ser uma queixa comum na idade adulta, Dr. Barroso aponta que ao corrigir, é necessário realizar o alongamento do pênis durante o procedimento. “O tratamento convencional da hipospádia inclui a cirurgia de alongamento peniano, quando se corrige a hipospádia, é necessário alongar o pênis na própria correção”, conclui.
A hipospádia pode ser identificada logo após o nascimento do bebê. Veja alguns sinais que podem indicar a presença de hipospádia em um recém-nascido:
• Posição da uretra;
• Padrão de jato de urina;
• Anomalias na cabeça do pênis;
• Curvatura peniana;
• Dificuldade ao urinar.
A confirmação do diagnóstico deve ser feita por um profissional de saúde, especialmente um pediatra ou um urologista pediátrico. O diagnóstico precoce pode ser fundamental para um tratamento adequado e melhores resultados em longo prazo.
Caso suspeite de hipospádia no seu filho, agende uma consulta para uma avaliação detalhada e orientações sobre o tratamento, se necessário.
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